Marte registrado pela MRO antes e depois da tempestade (Fonte: NASA Video)
Segundo a NASA - Agência Espacial Americana, uma tempestade de areia tomou conta do planeta Marte. No começo deste mês a tempestade já assumia escala planetária.
O vídeo acima compara imagens de Marte no final de maio, antes da tempestade, e no início de julho, quando a tempestade já atingia dimensões assustadoras. Ele foi feito pela MARCI - Mars Color Imager, câmera instalada na sonda MRO - Mars Reconnaissance Orbiter ("prima" da LRO - Lunar Reconnaissance Orbiter que citei neste post e que monitora a Lua)
Em 9 de julho deste ano fiz meu primeiro registro de Marte com telescópio. Confira o resultado abaixo.
Meu primeiro registro do planeta vermelho
Com o meu telescópio, um refletor newtoniano de 6 polegadas de abertura, usando uma barlow 2x (lente que dobra a distância focal do instrumento e na prática produz efeito de dobrar o aumento do telescópio), e capturando as imagens com uma webcam Logitech C270 adaptada¹ para astrofotografia, daria para registrar alguns detalhes do relevo superficial de Marte. No meu registro astrofotográfico, porém, quase não vemos detalhe algum. Além do fato de que sou inexperiente em Astrofotografia com telescópio, a tempestade em escala planetária certamente prejudicou bastante a captura.
A ideia era aproveitar a aproximação de Marte com a Terra² que terá seu máximo na próxima sexta-feira, 27 de julho. Mas, além de ter que contar com a "sorte" de noites limpas e com pouca turbulência³ atmosférica, a tempestade marciana é um inesperado fator que comprometerá bastante os registros do planeta vermelho nesta aproximação com a Terra em 2018.
Segundo os cientistas, a tempestade marciana vai abrandar aos poucos. Mas ainda deve durar até setembro. Desde junho, quando começou, ela já compromete instrumentos que trabalham em solo marciano. O rover Opportunity, que opera com energia solar, teve suas baterias descarregadas e não está operando. O Curiosity, outro rover que está em Marte, por sorte opera com uma bateria nuclear e não depende da energia solar para trabalhar.
Abraço do prof. Dulcidio. E Física na veia!
¹ Na prática, a adaptação de uma webcam para astrofotografia consiste em retirar a lente da camerazinha, expondo o seu sensor, e a adaptação de um tubo de 1,25 polegada no corpo da webcam para que ela se encaixe no porta ocular do telescópio, no lugar da lente ocular. /Com isso projetamos a imagem capturada diretamente no sensor da webcam. A Logitech C270 é, dentre os diversos modelos de webcam disponíveis no mercado, uma das melhores para tal "gambiarra".
² Marte demora 687 dias (quase dois anos terrestres) para completar uma volta ao redor do Sol. Desta forma, se num ano a Terra está mais perto de Marte, no ano seguinte estará mais longe. Aproximações Terra-Marte ocorrem, portanto, a cada dois anos aproximadamente. Nova oportunidade de observar e fotografar Marte mais de perto só em 2020.
³ Quando observamos um astro daqui da Terra, o fazemos através da atmosfera, a camada de ar que envolve a Terra. Só que na atmosfera temos correntes de ar o tempo todo. Este movimento contínuo das partículas de ar faz com que as astro imagens captadas por telescópios em solo terrestre fiquem "tremulando", como se tivéssemos observando o astro através de uma camada de água em movimento. Esse efeito, conhecido como turbulência, atrapalha bastante os registros astrofotográficos. usando softwares e técnicas de astrofotografia, ainda que de forma amadora, conseguimos minimizar este problema. No inverno, em geral, a atmosfera tende a ser menos turbulenta. O céu tende a estar mais limpo. Uma aproximação de Marte em pleno inverno é um sonho. Mas a inesperada tempestade marciana um pesadelo.