Bring Her Back is one of a the most effective and unsettling horror films I’ve seen in years. The kind of film that doesn’t just settle for scares, but instead gets under your skin and stays there, forcing you to confront uncomfortable ideas long after the theater lights come up—that's exactly what I look for when I want to watch something powerful. The modern "horror" landscape is, frankly, quite dull and full of clichés (when has it not been?), and I think we're finally moving past the wave of "evil hauntings, evil revelations, evil dolls, etc." It’s hard for a skeptical mind to take films seriously when they’re about things that don't exist, like ghosts. But Bring Her Back doesn't necessarily escape this; however, what undoubtedly sets it apart is exactly how the story is told and the elements present within it. The film is directed by brothers Danny and Michael Philippou, who had already shown immense talent in Talk to Me (which I haven't seen, but have heard great things about).
Horror cinema has been undergoing a remarkable transformation, largely driven by the A24 studio. The company has become synonymous with a type of film that uses fear not as an end in itself, but as a lens to examine complex human dramas. And you know what I love most about them? They're probably the biggest champions of "daylight horror" and that commands respect! Making a horror film in broad daylight is far more serious and confident than taking refuge in eternal shadows. I can only thank these people who are finally making movies you can actually see. It's absolutely awful when films have dark scenes, and some films are entirely dark. A24 consistently supports auteur visions and stories that prioritize character psychology and the construction of a dreadful atmosphere over relying on cheap scares. Hereditary, The Witch, Pearl, Beau is Afraid, and Midsommar are all examples of how the studio has given horror (and those films that are hard to define) the space to explore themes like grief, fanaticism, psychosis, pagan cultures, and trauma in profound ways. Bring Her Back fits perfectly into this legacy, and it may be the most brutal and focused example of them all.
The story begins with a situation already fraught with pain: teenage siblings Andy and little Piper, who is blind, are left in the care of a foster mother, Laura, played by Sally Hawkins. Laura is also living through a deep grief over the loss of her own daughter. What could be a story about healing and the formation of a new family quickly turns into a psychological nightmare. The Philippous' direction is impeccable in its ability to build tension. They use the camera in a way that makes us accomplices, forcing us to witness Laura's manipulation.
The pillar that supports the film is Sally Hawkins' extraordinary performance. Known for sweet and vulnerable roles, her casting is a masterstroke. She uses this audience expectation against us, slowly revealing the monstrosity hiding behind a fragile facade. Hawkins' Laura is no cartoon villain. She is a woman whose pain has completely consumed her, turning her love into a destructive obsession. The most frightening part is how believable she makes this journey, showing us glimpses of the real agony that fuels her terrible actions. In short, despite the absurdities, perhaps those of you who are parents can understand the path of mental deterioration from grief that would lead her to these fateful decisions.
[Attention: The following section contains major spoilers about the plot.]
The third act of Bring Her Back is where the film truly shows its courage. The expectation of a grand confrontation with a demonic entity, common in the genre, is brilliantly subverted. The ritual Laura performs doesn't open a portal to hell in the traditional sense. By summoning a demon to handle the logistics of a soul swap (taking her daughter's spirit from a slowly decomposing frozen body and placing it into her new adopted daughter), she uses an innocent little boy who is gradually degraded and corrupted by evil forces. He becomes a kind of puppet for the beast, an insatiable creature constantly battling its own hunger. This leads to the best scenes, like when he tries at all costs to eat a knife (in close-up) and when, unsatisfied by the vicious bite he takes out of Laura, he proceeds to eat a piece of the countertop, unbothered by the cost of having his teeth ground down by the hard wood.
All in all, the experience of Bring Her Back was a breath of fresh air that I hadn’t felt in these bloody genres since Pearl, and perhaps have never seen before in terms of the quality and detail in its technique of gore and discomfort. It has a bit of everything, and as we know all too well, the pain of grief can lead us to very dark places within ourselves. What a beautiful surprise this film was! As soon as I can, I'm going to watch Talk to Me, from the same directors, which some even say is better. If you appreciate well-crafted, adult cinema, definitely give this one a watch!
Name: Bring Her Back
Year: 2025
Genre: Horror
Duration: 1h 39m
Country of Origin: Australia
Thank you for reading!
Thômas Blum
Português
Faça ela voltar ou Bring Her Back é um dos filmes de horror mais eficazes e perturbadores que vi em muitos anos. Esse tipo de obra que não se contenta em assustar, mas que se infiltra na mente e permanece ali, nos forçando a confrontar ideias desconfortáveis muito tempo depois que as luzes do cinema se acendem é exatamente o que eu procuro quando quero assistir algo poderoso. O repertório de "terror" do mundo moderno é deveras chato, cheio de clichés (e quando não foi?) e acho que finalmente estamos passando da onda "assombrações do mal, revelações do mal, bonecas do mal, etc". É muito difícil abstrair-se da seriedade cética assistindo filmes que ficam falando sobre coisas que não existem (fantasmas, etc). Mas Bring her back não necessariamente foge disso, porém, sem dúvidas o diferencial é exatamente como a história é contada, e os elementos presentes ali. O filme é dirigido pelos irmãos Danny e Michael Philippou, que já haviam demonstrado um talento imenso em Fale Comigo (que eu não vi, mas ouvi falar muito bem).
O cinema de horror tem passado por uma transformação notável, em grande parte impulsionada pelo estúdio A24. A empresa se tornou sinônimo de um tipo de filme que usa o medo não como um fim em si mesmo, mas como uma lente para examinar dramas humanos complexos e sabe o que eu mais gosto neles? É que são provavelmente os maiores propagadores do "daylight horror movies" e isso é de se ter respeito! Fazer filme de horror em plena luz do dia é muito mais sério e confiante do que refugiar-se na eterna penumbra, eu só tenho a agradecer a essa gente que finalmente está fazendo filme que dá pra enxergar. É totalmente péssimo filme com cenas escuras e tem filmes que são inteiramente escuros. O A24 consistentemente apoia visões autorais e histórias que priorizam a psicologia dos personagens e a construção de uma atmosfera de pavor, em vez de depender de sustos fáceis. Hereditário, A Bruxa, Pearl, Beau is Afraid, Midsommar são exemplos de como o estúdio deu espaço para o horror (e esses filmes que não tem como definir muito bem) explorar temas como luto, fanatismo, psicose, culturas pagãs e trauma de formas profundas. Bring Her Back se encaixa perfeitamente nesse legado, e talvez seja o exemplo mais brutal e focado de todos.
A história começa com uma situação já carregada de dor: os irmãos adolescentes Andy e a pequena Piper, que é cega, são deixados aos cuidados de uma mãe adotiva, Laura, interpretada por Sally Hawkins. Laura também vive um luto profundo pela perda de sua própria filha. O que poderia ser uma história sobre cura e a formação de uma nova família se transforma rapidamente em um pesadelo psicológico. A direção dos Philippou é impecável em sua capacidade de criar tensão. Eles usam a câmera de forma a nos tornar cúmplices, forçando-nos a testemunhar a manipulação de Laura.
O pilar que sustenta o filme é a performance extraordinária de Sally Hawkins. Conhecida por papéis doces e vulneráveis, sua escalação é um golpe de mestre. Ela usa essa expectativa do público contra nós, revelando aos poucos a monstruosidade que se esconde por trás de uma fachada de fragilidade. A Laura de Hawkins não é uma vilã caricata. Ela é uma mulher cuja dor a consumiu por completo, transformando seu amor em uma obsessão destrutiva. O mais assustador é o quão crível ela torna essa jornada, mostrando-nos vislumbres da agonia real que alimenta suas ações terríveis. Em resumo, apesar dos absurdos, talvez você que é pai/mãe consiga entender o caminho da deterioração mental do luto que a levaria as fatídicas decisões.
[Atenção: A seção a seguir contém spoilers importantes sobre a trama.]
O terceiro ato de Bring Her Back é onde o filme realmente mostra sua coragem. A expectativa de um grande confronto com uma entidade demoníaca, comum em filmes do gênero, é subvertida de forma brilhante. O ritual que Laura executa não abre um portal para o inferno nos moldes tradicionais; ao invocar um demônio para fazer a logística de troca de alma (tirar o espírito da filha que está no corpo congelado em decomposição lenta e coloca-lo na nova filha adotiva) ela utiliza-se de um garotinho inocente que é pouco a pouco degradado e deturpado pelas forças do mal tornando-se uma espécie de fantoche da besta, uma criatura insaciável que luta contra a fome o tempo todo e trás as melhores cenas como quando tenta a todo custo comer uma faca (em close) e quando insatisfeito pela mordida violenta que dá em Laura, ainda come um pedaço da bancada sem incomodar-se com o custo de ter seus dentes moídos pela madeira dura demais.
Enfim, a experiência de Bring her back me deu um frescor que eu não via desde Pearl nesses gêneros sanguinolentos e provavelmente não havia visto até hoje em qualidade e detalhismo na técnica do "gore" e do desconforto. Tem um pouco de tudo aqui e como sabemos bem, a dor do luto leva para cantos muito obscuros dentro de nós mesmos. Que bela surpresa foi esse filme! Assim que possível eu vou para o Talk to me, dos mesmos diretores, que parece inclusive ser até melhor, para alguns. Se você gosta de cinema bem feito e adulto, vai firme nesse daqui!
Nome: Bring her back
Ano: 2025
Gênero: Horror
Duração: 1h39m
País de origem: Australia
Obrigado pela leitura!
Thômas Blum