A inteligência artificial associada à robótica vai permitir a automação de tarefas repetitivas, deixando as pessoas encarregadas apenas das atividades de criação. Isto é o que diz o que folder, mas será que as pessoas realmente querem isso? Será que essa ruptura nos padrões sociais realmente trará benefícios à população ou é meramente uma forma de beneficiar algumas “castas” da sociedade?
Estava realizando meu trabalho quando tive a idéia de escrever este artigo. Meu trabalho é composto por diversas tarefas operacionais que se repetem, dia após dia. A única alternação na rotina ocorre quando algo sai errado, seja um sistema de informação com problemas, um cliente que descobre alguma falha (ou é impactado por uma falha pré-existente em algum processo) ou quando um dos meus colegas comete um erro em suas próprias rotinas. Fora isso, tudo é exatamente igual todos os dias. Por um lado é bom porque, como já adquiri prática no serviço, consigo executar tudo mais rapidamente e ainda resta algum tempo para que eu possa ler, escrever e refletir sobre assuntos polêmicos, como é o caso deste que estou abordando aqui. Por outro lado, é tedioso fazer as mesmas coisas todos os dias. Mas não posso e não devo reclamar, afinal, a economia brasileira está passando por uma fase difícil e eu ainda permaneço empregado (ao menos por enquanto).
Ao ler artigos sobre inteligência artificial e robótica, às vezes considero que seria bom ter algumas das minhas tarefas automatizadas. Isso me ajudaria a ter mais tempo livre e evitaria erros na sua execução. Por outro lado, esse tempo extra que eu “ganharia” seria usado por meu empregador. Ele certamente atribuiria novas tarefas à minha rotina diária, afinal, quando estou dentro da empresa o tempo não me pertence, ele é propriedade do meu empregador. Ele compra meu tempo todos os meses e, em troca, me paga o salário combinado.
Mas, voltando à questão da automação, se eu tivesse realmente a oportunidade de delegar tarefas a um robô, eu faria? A resposta provavelmente seria sim, afinal, eu teria um ganho de produtividade e mais tempo “livre”. Mas, se isso realmente se tornasse realidade (e um deve se tornar), me ocorre que, com o passar do tempo e com a evolução natural das tecnologias robóticas, cada vez mais do meu trabalho seria executado de forma mecanizada, restando poucas coisas para eu fazer. Talvez o meu chefe resolvesse me demitir, pois estaria tendo “problemas” com mão de obra excedente na empresa. Eu tentaria conseguir outro emprego e me daria conta de que o mercado havia piorado ainda mais em função da automação generalizada de todos os seguimentos da economia. Haveria poucas oportunidades de trabalho em quase todas as áreas, mas sobrariam oportunidades para pessoas capacitadas para lidar com as mais modernas tecnologias. Eu, no entanto, não teria preparo para me candidatar a uma dessas vagas, sem contar o fato da concorrência descomunal. Seriam centenas ou até milhares de pessoas disputando umas poucas vagas em uma área que se reinventa todos os dias. Se o departamento de tecnologia de uma empresa conta hoje com 100 funcionários desenvolvendo aplicações de ponta, daqui há um ou dois anos as ferramentas desenvolvidas por eles mesmos (e por equipes de outras empresas) serão tão sofisticadas que somente uma parte dessa força de trabalho será suficiente para realizar as mesmas atividades.
Está certo, estou sendo um tanto quanto pessimista e tentando estragar a cereja do bolo de alguém, mas me preocupa o fato de que poucas pessoas param para pensar nos reais impactos da tecnologia na vida moderna. Não estou falando na perda de alguns empregos que serão substituídos por outros em proporção mais ou menos igual (apesar da maior exigência de conhecimentos e habilidades), estou me referindo à perda maciça de postos de trabalho simplesmente porque as máquinas podem fazer as mesmas coisas que nós fazemos e de uma forma muito melhor. Se eu me colocar na posição de um empresário, porque eu teria dez funcionários se posso fazer as mesmas coisas com duas pessoas e uma máquina? O investimento pode ser recuperado em pouco tempo, a máquina não reclama, não falta ao trabalho e não abre processos trabalhistas. A manutenção preventiva é feita pelo fabricante, que também presta o serviço de manutenção de emergência a qualquer hora do dia e da noite. Em resumo, um empregado perfeito, que produz em larga escala, com elevado padrão de qualidade, sem desperdício de recursos e a qualquer hora (sem cobrar adicional noturno ou hora extra). Quem não iria querer um recurso como este? Este é um dos motivos do sucesso dos robôs em indústrias de diversas partes do mundo, com destaque para o Japão e a China.
Diante de uma possibilidade tão plausível quanto esta (ser substituído por uma máquina) a pergunta que me faço é: eu quero que minhas tarefas sejam automatizadas? A minha resposta obviamente é não, porém, eu não decido nada e certamente o meu empregador já decidiu o qual é melhor caminho para sua empresa. Embora minha atual rotina ainda permaneça praticamente a mesma, meus colegas já estão sentindo os efeitos da automação em seu trabalho. Muitas coisas passaram para o ambiente digital e há menos cópias, registros manuais e manuseio de arquivos. Os clientes encontram uma série de opções de auto-serviço que dispensa a necessidade de contar com ajuda humana. Há sistemas automatizados sendo testados para as mais diversas funções, alguns deles sendo disponibilizados aos próprios empregados para que dêem sugestões de melhoria (que irônico). Em resumo, a automação está batendo à porta para alguns e já está começando a fazer parte do dia a dia de outros. Resta saber se ela será um instrumento de auxílio, para que possamos libertar nossa criatividade humana, ou se simplesmente trata-se de um substituto mais eficiente. Se for este o último caso, me resta o consolo de que irei para cada descansar e não terei mais que fazer a mesma tarefa repetitiva todos os dias. Mas será que realmente quero isso?