Brincar com as palavras e palavras que "se dão à brincadeira" é uma coisa que realmente me fascina.
Fernando Pessoa em flagrante delitro.
Esta frase é uma dedicatória escrita por Fernando Pessoa do verso da fotografia acima oferecida à namorada Ofélia Queirós. Fotografia onde o poeta aparece a beber vinho numa típica taberna lisboeta. Esta situação inspirou o poeta a fazer um "trocadilho" entre o substantivo delito e a palavra delitro,
palavra que não existe e que de uma forma irónica Pessoa usou para associar litro a vinho e provavelmente ao "delito" de o consumir em excesso.
Curiosamente este "trocadilho" e esta fotografia serve para datar o início da segunda fase do namoro com Ofélia Queirós a 11 de Setembro de 1929, conforme conta a própria à sua sobrinha-neta (Maria da Graça Queiroz). “Um dia, o meu sobrinho Carlos Queirós trouxe para casa aquele famoso retrato do Fernando a beber vinho no Abel Pereira da Fonseca (tirado pelo Manuel Martins da Hora). Trazia uma dedicatória: «Carlos: isto sou eu no Abel, isto é, próximo já do Paraíso Terrestre, aliás perdido. Fernando. Dia 2/9/29» Achei muita graça, como é natural, e disse ao meu sobrinho que gostava de ter uma para mim. O Carlos disse-lhe, e passado pouco tempo ele enviou-me uma fotografia igual com esta dedicatória: « Fernando Pessoa em flagrante delitro.»
Escrevi-lhe a agradecer e ele respondeu-me. Recomeçámos então o «namoro»
Ainda sobre Fernando Pessoa que é reconhecidamente um poeta genial e talvez o maior da língua portuguesa, deixo-vos uma frase que segundo Ofélia Queirós, Fernando Pessoa lhe dizia e que para ela era demonstração da simplicidade e falta de vaidade do próprio poeta.
"Nunca digas a ninguém que sou poeta. Quanto muito, faço versos."